Os tambores da senzala
- mentes & medos
- 29 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
Minas Gerais década de 80, assim que sai do carro avistei uma linda fazenda, a se perder de vista, era uma propriedade da família de uma amiga, passada de geração a geração por anos.
O dia na fazenda foi muito legal, com passeios por trilhas e cachoeiras, no final da tarde ainda ascendemos uma fogueira e ficamos em volta dela conversando assuntos aleatórios e comendo comidas deliciosas, até então tudo normal, o extraordinário aconteceu na hora de dormir.
A casa era enorme, tinha um corredor com vários quartos, me acomodei em um desses e esperei pegar no sono, até que o silêncio da noite foi interrompido por barulhos de batuques, como se houvesse pessoas batendo em tambores, achei estranho, mas até então pensei que tinha gente tocando essas músicas.
O som ia e voltava de repente, resolvi olhar pela janela para ver de onde vinha esse som, do lado de fora da casa, a alguns metros de distância, havia um enorme galpão, que a família usava como depósito para as rações dos animais, o som vinha desse galpão, olhei e não via ninguém, estava tudo um breu total, inclusive esse galpão, que aparentemente não havia ninguém, um frio percorreu minha espinha, fechei a janela e voltei a deitar, mas o som continuava.
Já era madrugada e estava ficando com muito medo, até que resolvi ir para o quarto da minha amiga, e perguntar se ela também estava ouvindo os sons dos batuques ou eu é quem estava ficando louca, foi quando ela me falou que também estava escutando, e que esses sons eram normais naquela fazenda, segundo ela, a cerca de 150 anos atrás, a fazenda tinha escravos, e o galpão que olhei pela janela era a antiga senzala, os escravos costumavam tocar tambores quando estavam comemorando algo, um aniversário, um nascimento, ou algum dia festivo dos seus orixás, que cultuavam devido a suas origens Iorubá.
Pelo jeito a família dela e os funcionários já estavam acostumados com os sons, eu sinceramente achei assustador, nunca mais fui lá, mas segundo ela, até hoje as pessoas escutam os tambores batendo madrugada adentro, entre vozes e vultos.
Seriam os espíritos dos antigos escravos que ficaram na fazenda? Ou a energia que o lugar gerou reproduz esses sons? Só sei

que nesse lugar houveram muitos choros e angustias, e para esse povo o que lhes restava era tocar, tocar até se esquecerem de seus sofrimentos.
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