Brincando com um fantasma
- mentes & medos
- 19 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Essa história aconteceu na década de 90 com um amigo, o chamarei aqui de José, nessa época ele tinha 10 anos, estava em uma festa de aniversário em um sítio no interior de São Paulo.

O dia estava ensolarado, era uma linda tarde de domingo, um amigo da escola convidou a sala toda para comemorarmos seu aniversário em um sítio que a sua família possuía no interior de São Paulo.
Chegando lá me senti um pouco deslocado, fazia pouco tempo que havia me mudado para essa escola e ainda não tinha me enturmado com todos, e por ser muito tímido fiquei de canto vendo as outras crianças brincarem, foi quando olhei para o lado e vi um menino magro e pálido que aparentava ter a minha idade.
Começamos a conversar, na verdade eu fiz um esforço e puxei assunto com ele, no começo fiquei sem graça, pois ele só me respondia com palavras monossilábicas, achei que como eu ele era tímido também, perguntei o seu nome e ele falou que era César, perguntei se ele também estudava na minha escola e ele falou que não, que ele morava ali, imaginei que ele era filho de algum caseiro ou empregado dos pais do meu amigo, até que começamos a brincar, o lugar era muito espaçoso, corremos praticamente o sítio todo brincando de esconde-esconde, ele parecia conhecer muito bem o local, estávamos nos divertindo, ele até começou a rir pra mim, perdi totalmente a noção de tempo enquanto estava com ele.
Em determinado momento era a minha vez de procura-lo, foi quando o pai do meu amigo apareceu e falou que nós iriamos ver os cavalos do sítio, e que depois íamos cantar os parabéns, falei para ele que eu precisava encontrar o César para avisa-lo também, o pai do meu amigo só me olhou com uma cara de indagação e me puxou para ir com ele, como eu era muito pequeno e não tinha autonomia acabei indo sem contestar.
Enquanto os garotos olhavam os cavalos com entusiasmo eu só olhava para o lado procurando pelo César, mas nada dele aparecer, perguntei para o aniversariante se ele o tinha visto, mas para o meu desespero ele falou que não conhecia ninguém com esse nome, que só tinha chamado os meninos da nossa sala de aula, então resolvi perguntar para o pai dele de novo, já estava ficando preocupado, e se o César se escondeu e aconteceu algum acidente? Precisava encontra-lo, mas o pai do meu amigo novamente me ignorou, disse que eu estava brincando sozinho quando ele chegou e que não tinha nenhum convidado com esse nome, então me mandou entrar na casa para cantar parabéns.
A minha inquietação só aumentava, até que resolvi perguntar para a mãe do meu amigo, que era a dona da casa, quando falei que eu estava brincando com um menino e ele tinha simplesmente sumido ela fez uma cara de espanto, me perguntou como esse menino era, e eu o descrevi, ela começou a ficar nervosa, chamou o marido de canto e cochichou algo com ele, na sequencia saiu e seu marido me falou que provavelmente o César era algum vizinho dos sítios ao redor e que teve que ir embora para casa, achei aquilo tudo muito estranho, mas acatei e não comentei mais sobre o assunto.
Dez anos se passaram, a minha amizade com o aniversariante que fez a festinha no sítio só aumentou e nos tornamos bons amigos, um belo dia, estava na casa dele e comentei sobre o César, a mãe dele estava presente, foi quando ela falou que se lembrava bem desse dia, na época ela não quis me falar porque queria me assustar, mas me explicou que o sítio era da sua família a muitos anos, e que, quando ela era criança ela também via o mesmo menino que me fez companhia na festinha, brincava com ele e tudo, descreveu a mesma roupa gasta que ele usava, uma blusa branca com uma calça marrom bem simples, magro, muito pálido e olhos grandes.
Ela contou que na época a sua família havia percebido um comportamento estranho, pegavam ela falando sozinha pelo sítio, quando ela falava do menino a família mudava de assunto, e a sua mãe dizia que o menino era apenas um amigo imaginário, pois ela era muito sozinha, até que se mudou para a cidade e quando voltou nunca mais o viu, depois de adulta a sua avó falou que a muitos anos atrás, quando ela ainda era uma criança, tinha a história de um menino que era filho de um funcionário dos seus pais, ele havia subido em uma árvore e caiu, teve traumatismo e veio a falecer, a avó dela nem nascida era, mas cresceu sabendo da história, ela acreditava na neta e tinha certeza que era o espírito dele que ficou preso no sítio.
Quando ela me contou essa história tive certeza que estavam falando do César, e segundo a mãe do meu amigo, nunca mais ninguém relatou outra aparição dele, até o momento, essa foi a primeira e única experiência sobrenatural que tive, hoje já adulto penso, existem tantos relatos de crianças que conversam com outras crianças que ninguém vê, mas para todos os efeitos os adultos falam que é apenas um amigo imaginário, e vocês, o que acham?
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